Reprodução interpretativa e cultura de pares em
crianças
William A. Corsaro
Indiana University, Bloomington
Tradução: Ana Carvalho
Reprodução interpretativa
Ofereço em meu trabalho uma abordagem à socialização na infância que
denomino Reprodução Interpretativa (Corsaro, 2005).
1. O termo interpretativa captura os aspectos inovadores da
participação das crianças na sociedade, indicando o fato de que as crianças
criam e participam de suas culturas de pares singulares por meio da apropriação
de informações do mundo adulto de forma a atender aos seus interesses próprios
enquanto crianças.
2. O termo reprodução significa que as crianças não apenas
internalizam a cultura, mas contribuem ativamente para a produção e a mudança
cultural. Significa também que as crianças são circunscritas pela reprodução
cultural. Isto é, crianças e suas infâncias são afetadas pelas sociedades e
culturas das quais são membros.
Verifiquei em meus estudos que a produção de sua cultura de pares
pelas crianças não é uma questão de simples imitação. As crianças apreendem
criativamente informações do mundo adulto para produzir suas culturas
singulares.
Defino cultura de pares como um conjunto estável de atividades ou
rotinas, artefatos, valores e interesses que as crianças produzem e
compartilham na interação com seus pares.
Nesta apresentação vou tratar de dois exemplos de rotinas da cultura
de crianças pequenas. Vamos examinar alguns exemplos videogravados dessas
rotinas e refletir sobre sua importância na vida cotidiana das crianças. Na
conclusão, considero a possibilidade de que essas rotinas sejam aspectos
universais das culturas de pares em crianças, dada sua produção em diferentes
espaços e tempos.
Brincadeira de aproximação-evitação
Brincadeira de dramatização de papéis
Brincadeira de aproximação-evitação
Exemplo da Apple Girl registrado nas notas de campo.
Apresentacão da seqüência videogravada de aproximação-evitação.
Interromper e perguntar sobre movimentos de porovocação e sua
relação com a cultura de pares. Em seguida, mostrar o resto da seqüência e
dizer que vamos falar sobre cada fase.
Apresentar slides 4 a
7 explicando as fases de aproximação-evitação.
Como discutirei mais adiante, a estrutura básica de
aproximação-evitação aparece em exemplos formais de brincadeiras com regras,
como La Strega (A Bruxa) na Itália, e muitas outras.
Apresentar slides 8 e 9
II. Importância da aproximação-evitação na cultura de pares
A.
O agente que ameaça é em
última instância controlado pelas crianças ameaçadas
B.
A estrutura da rotina
produz acumulação e liberação de tensão
C.
As crianças ameaçadas
podem iniciar, reciclar, acrescentar elementos (“enriquecer”) e encerrar a
rotina.
III. Implicações da aproximação-evitação para a Reprodução
Interpretativa
A.
As crianças produzem
coletivamente uma rotina na qual compartilham a acumulação de tensão, a
excitação da ameaça, e o alívio e alegria da fuga.
B.
As representações
sociais de perigo, mal, desconhecido e outras ambigüidades, que estão se
desenvolvendo nas crianças, são mais firmemente apreendidas e controladas.
Como discutirei adiante, a estrutura básica
de aproximação-evitação parece ser a base de muitos tipos de brincadeiras de
perseguição e fuga de crianças em todo o mundo. É interessante notar que
observamos esta rotina espontânea em crianças muito pequenas, mesmo antes que
estejam brincando de brincadeiras mais formais que mais tarde se constroem
sobre esta rotina.
Brincadeiras de dramatização de papéis
Pesquisadores que estudam crianças argumentam já há muito tempo a
respeito da importância de brincadeiras de dramatização de papéis para o
desenvolvimento social e emocional das crianças. Tal como a maioria dos
adultos, esses pesquisadores quase sempre vêm os jogos de papéis como imitação
direta de modelos adultos. No entanto, as crianças não imitam simplesmente
modelos adultos nessas brincadeiras, mas antes elaboram e enriquecem
continuamente os modelos adultos para atender seus próprios interesses.
A apropriação e enriquecimento de modelos adultos pelas crianças se
refere primariamente a status, poder e controle. Ao assumir papéis adultos, as
crianças adquirem poder (são “empoderadas”). Elas utilizam a licença dramática
da brincadeira imaginativa para projetar o futuro – a época em que elas terão
poder e controle sobre si mesmas e sobre os outros.
Jogos de papéis também permitem que a criança faça experiências
sobre como diferentes tipos de pessoas da sociedade agem e se relacionam entre
si. Um aspecto de grande importância para as crianças é o gênero e as
expectativas sobre comportamento de meninas e meninas e a forma como papéis são
socialmente estereotipados por gênero. Novamente veremos aqui que as crianças
não aceitam esses estereótipos, mas os desafiam e refinam. Assim, expectativas
de gênero não são simplesmente inculcadas nas crianças pelos adultos, mas são
socialmente construídas pelas crianças nas interações com adultos e entre si.
Jogo de papéis e poder social
As crianças começam a brincar de papéis já aos dois anos de idade, e
a maior parte dos jogos de papéis entre dois e cinco anos é sobre expressão de
poder. Em minha dissertação, eu estava interessado no uso da linguagem na
brincadeira entre um irmão e uma irmã, Krister e Mia, e um segundo garoto,
Buddy. Em uma das sessões de brincadeira, Mia (que tinha quatro anos e tinha
estado na pré-escola) e os dois meninos (ambos com cerca de dois anos e meio e
sem experiência de pré-escola) iniciaram uma seqüência de jogo de papéis quando
Mia sugeriu que brincassem de professor. Krister quis ser o professor, e trouxe
uma cadeira para a frente de um grande quadro negro existente na sala. Mia,
Buddy e eu nos sentamos no chão, como alunos.
Krister pegou o giz e disse: “Agora escrevam isto!”, e desenhou
diversas linhas.
“Isso não são letras, são só linhas”, eu provoquei.
“Ele ainda não escreve bem”, me respondeu Mia meio aborrecida. “Faça
de conta que são letras”.
Mas Krister não permitiu que sua autoridade fosse desafiada. Gritou
comigo: “Bill, você é mau! Vá sentar no canto agora mesmo!”. Krister apontou para
um canto da sala e eu peguei minha folha de papel e fui sentar lá. Buddy e Mia
começaram a rir, mas Krister deu mais algumas ordens sobre o que devia ser
escrito, e Mia, Buddy e eu o atendemos.
Vemos aqui uma criança pequena, que não
tinha experiência de escola, mas tinha a informação de que professores são
poderosos e dizem às crianças o que elas devem fazer. Além disso, garotos mal
comportados têm que se sentar no canto. Será que Krister aprendeu isso com Mia?
É possível, mas não a partir da experiência dela na pré-escola. O pai deles me
garantiu que na escola de Mia não se mandava criança sentar no canto. Talvez a
informação tenha vindo de algo na televisão, tal como um desenho animado ou uma
brincadeira de adultos sobre crianças que não se comportam bem na escola terem
que sentar no canto. A fonte da informação de Krister importa menos do que seu
desejo de expressar o poder que se tem em um papel adulto e hierarquicamente
superior (isto é, um papel com o maior poder ou autoridade), uma situação em que
as crianças raramente se encontram.
No jogo sócio-dramático as crianças desfrutam a assunção e expressão
de poder. É divertido. Em um episódio complexo de jogo de papéis de meu
trabalho em Berkeley, as crianças (todas em torno de quatro anos de idade) claramente
expressavam poder e controle nos papéis hierarquicamente superiores, se
comportavam mal e obedeciam nos papéis subordinados, cooperavam nos papéis de
status equivalente, mas se confundiam a respeito do arranjo e das expectativas
de gênero em outros papéis.
Um menino, Bill, e uma menina, Rita, entraram no andar de cima da
casa de bonecas levando bolsas e uma maleta. Antes de subir eles tinham
combinado a respeito dos papéis de marido e mulher. Depois de deixarem as
bolsas e maleta no chão, eles olharam para as crianças que brincavam no piso
inferior da sala. Viram dois meninos, Charles e Denny, engatinhando e miando
como gatos. Agora vou mostrar um vídeo dessa brincadeira, e vocês podem
acompanhar na transcrição.
Apresentar vídeo do jogo de papéis “Dois maridos”
(Referir ao exemplo 1 da transcrição)
Vemos nesta seqüência que o marido e a mulher expressam claramente
sua autoridade sobre os gatinhos por meio do uso de imperativos expressos com
entonações fortes e acompanhados por gestos de controle. Mas vemos também que
os gatinhos provocam essas manifestações fortes através de mau comportamento e
resistência. De fato, em muitos episódios de jogo de papéis os subordinados
(crianças, ou animais de estimação) freqüentemente se comportavam mal, fazendo
exatamente o que lhes era dito para não fazerem!
Nesse processo emergem enredos de disciplina com uma estrutura de
linguagem semelhante à que vimos acima, na qual o poder é claramente exibido e
imposto. È como se as crianças quisessem que isso acontecesse. Elas querem
criar e compartilhar emocionalmente o poder e controle que os adultos têm sobre
elas.
Depois que os gatinhos foram embora, marido e mulher decidiram que a
casa precisava de uma limpeza. Em harmonia com papéis estereotipados de gênero,
Bill arrastou os móveis enquanto sua esposa, Rita, limpava o chão. Aqui as
crianças trabalham juntas em acordo com expectativas estereotipadas de gênero
que se expressam em ações (isto é, maridos são fortes e ajudam arrastando os
móveis enquanto as mulheres fazem a limpeza) e são reforçadas em avaliações
verbais (por exemplo, Rita nota que Bill é um homem forte e prestativo).
Enquanto Rita está fazendo de conta que enxuga o chão, os gatinhos
voltam. Bill tenta impedir que eles entrem, mas eles correm para dentro no chão
recém limpo. Bill tenta enxotá-los de volta para a escada.
Nesta seqüência o jogo de papéis encontra um obstáculo, pelo menos
para Rita, quando Denny decide que não quer mais ser um gato. Talvez ele
estivesse ficando cansado de ser enxotado pela escada. De qualquer forma, Bill
sugere que Denny também seja marido e quando Denny aceita ele diz: “Tá bom,
precisamos de dois maridos”. Não fica claro porque Bill faz essa proposta.
Provavelmente, como Denny é um menino, e homens são maridos, Bill acha que Denny
deve ser um marido, como ele próprio.
Rita, no entanto, pensa de outra forma, e vê um problema que vai
além dos estereótipos de gênero: uma mulher e dois maridos. Enquanto os meninos
dançam e comemoram os papéis de dois maridos, Rita argumenta sem sucesso que
ela não pode conquistar, ter, casar com, ou amar dois maridos.
Ela sabe que há alguma coisa errada nessa relação (pelo menos entre
os adultos de sua cultura). O que há de errado tem a ver com sua compreensão
emergente de que os papéis de marido e mulher não são apenas específicos dos
gêneros, mas também se relacionam entre si de maneiras particulares. Maridos e
mulheres se amam e se casam. Está até pressuposto que isso ocorre em sua
relação de faz de conta com Bill. Mas o que é que ela vai fazer com Denny?
Ela parece oferecer a Denny o papel de avó: “Não posso ter dois
maridos porque tenho uma avó”. Mas sua frase é confusa e avó está no gênero
errado – se fosse avô poderia ter funcionado. É interessante o contraste entre
o entusiasmo dos meninos por serem dois maridos – Bill chega a sugerir que eles
se casem, mas a cerimônia não ocorre – e o desconforto de Rita com essa
proposta. No final, ela resolve o problema tornando-se um gatinho, e a
brincadeira continua com um retorno a mau comportamento e disciplina.
No entanto, Rita teve uma percepção sobre a complexidade das
relações de papéis. Nos termos de Piaget, ela teve um desequilíbrio em seu
sentido do mundo social e tentou compensá-lo. Vemos, portanto, que o jogo de
papéis é diversão e improvisação, é imprevisível e rico de oportunidades para
reflexão e aprendizagem.
Non C’e Zuppa Inglese: Ajustando o
contexto no jogo de papéis
O jogo de papéis envolve mais do que a aprendizagem de conhecimentos
sociais específicos; envolve também aprender a relação entre contexto
e comportamento. Como argumenta o antropólogo Gregory Bateson
(1956), ao brincar de papéis a criança não aprende apenas algo a respeito da
posição social específica daquele papel, mas “aprende também que existem
papéis”. Segundo Bateson (1956), a criança “adquire um novo modo de ver,
parcialmente flexível e parcialmente rígido”, e aprende “o fato da
flexibilidade estilística e o fato de que a escolha de estilo ou de papel está
relacionada à ‘moldura’ ou contexto do comportamento”.
O reconhecimento, pela criança, do “poder transformador” da
brincadeira é um elemento importante da cultura de pares. É ao uso que ela faz
desse poder transformador no jogo de papéis que vou me referir como “ajustando
o contexto”, em acordo com Bateson e com o sociólogo Irving Goffman (1974).
Vamos ver um exemplo.
Em Bolonha, Emília, uma menina, fez uma loja de sorvete com duas de
suas amigas. Ela se aproximou de onde eu estava brincando com três meninos,
Alberto, Alessio e Stefano. Estou com o microfone na mão porque estamos
videogravando a brincadeira (Corsaro, 2003).
Vamos ver o vídeo desse exemplo, e depois ler a tradução do que as
crianças estão dizendo.
Neste exemplo, Emilia quer inicialmente permanecer no contexto
delimitado do fazer de conta que tem uma pequena loja de sorvete, com sabores
que podem ser representados por objetos existentes no pátio: lixo, folhas etc.
Embora eu tenha dificuldades para fazer meu pedido, por causa do meu italiano ainda
meio precário, permaneço no contexto e aceito, ou antes, proponho “chocolate”,
um sabor que sei que ela tem. Mas Stefano, e depois Alberto, dizem mais ou
menos: “Qual é a graça disso?!” Eles ajustam ou ampliam o contexto pedindo de
propósito os sabores que sabem que Emilia não tem, ou faz de conta que não tem. Assim, todo o jogo
de papéis passa a ser sobre “brincar com a brincadeira”.
Esta reviravolta nos eventos fica mais clara quando Alberto chama
Emilia quando ela está se afastando, e pede zuppa inglese (um sabor raro
de sorvete, associado a uma sobremesa inglesa[2]).
Nessa altura, até eu entendo o que está acontecendo, e me associo às risadas
dos outros meninos diante do pedido de Alberto. Emilia, fingindo-se aborrecida,
está claramente se divertindo em lidar com Alberto. Ela desfruta a oportunidade
de recusar o pedido, respondendo “Non c’e zuppa inglese!”. A resposta de
Alberto a isso é pedir banana! Mais tarde, no entanto, Emilia dá um pouco o
braço a torcer, e diz que pode ser que tenha pistache e que vai checar se tem
refrigerante de laranja.
Conclusão
Brincadeira e cultura de pares hoje e em outras épocas e lugares
Serão as brincadeiras de aproximação-evitação e o jogo de papéis
aspectos universais da cultura de pares em crianças?
Aproximação-evitação
A aproximação – evitação tal como
vimos na rotina do exemplo anterior é um tipo de brincadeira que tem sido
documentado em diferentes épocas e diferentes culturas. Relaciona-se claramente
com diversas brincadeiras de perseguição e fuga em que uma criança assume o
papel de agente ameaçador.
Em meu trabalho na Itália
(Corsaro,2005), documentei uma brincadeira chamada La Strega,ou A Bruxa,
que tem diversas variações dos aspectos básicos da rotina de
aproximação-evitação que comentamos aqui.
Esse tipo de brincadeira também foi
documentado entre crianças !Kung na Nambia, Sudoeste da África, pela
antropóloga Lorna Marshall em 1950-1960. As crianças brincavam de um jogo
chamado “sapos”, um inverso do “Mamãe, eu posso?” A brincadeira começa com a
escolha de uma criança para ser “mãe de todos”, as demais crianças sentando-se
em círculo. Quando a mãe toca uma criança com uma vareta, a criança finge que
está dormindo. Quando todas as crianças estão dormindo, a mãe arranca cabelos
de sua cabeça e os coloca em um caldeirão imaginário para cozinharem. Os
cabelos são “sapos” que foram caçados para serem comidos. Quando os sapos estão
cozidos, a mãe acorda os filhos um por um e pede a cada um que vá buscar seu
pilão e a mão do pilão para que ela termine de preparar os sapos. Mas as
crianças se recusam, então a mãe, zangada, vai ela mesma buscar o pilão e a mão
de pilão. Enquanto ela está longe, as crianças roubam os sapos e fogem para se
esconder. Quando a mãe volta, ela finge estar muito zangada e persegue as
crianças.
Quando encontra uma criança, bate
nela com o dedo. Essa ação “quebra a cabeça” de forma que os “ miolos da
criança escorrem para fora”, e a mão então finge beber os “miolos”. A parte
final da brincadeira freqüentemente resulta em caos, quando as crianças tentam
escapar da mãe. Em seguida as crianças passam a perseguir umas às outras, rindo
e batendo nas cabeças umas das outras (Marshall, 1976, citado em Schwartzman,
1978, p. 126).
É óbvia a correspondência com a
seqüência de aproximação-evitação que vimos antes, embora a brincadeira seja
mais elaborada e complexa.
Jogo de papéis
A historiadora Barbara Hanawalt, em
seu livro Growing up in Medieval London (1993) relata que as crianças da
Londres medieval envolviam-se em dramatização de papéis tais como reproduzir a
celebração de cerimônias religiosas e casamentos.
Com base em entrevistas com
ex-escravos, Lester Alston (1992) e David Wiggins (1985) relatam que crianças
escravas da época anterior à Guerra Civil nos EUA envolviam-se em uma diversidade
de tipos de jogos de papéis, que novamente incluíam cerimônias religiosas, como
batismos, e especialmente “leilões de escravos”, que claramente ajudavam as
crianças a lidar com as fortes emoções provocadas pela possibilidade de serem
separadas de suas famílias nas comunidades escravas.
Cindi Katz, em seu trabalho
etnográfico sobre brincadeira e trabalho entre crianças sudanesas de áreas
rurais na década de 80, documentou jogos de papéis elaborados e claramente
associados a atividades adultas. Os meninos reproduziam diversas atividades
relacionadas com a agricultura e o comércio e seus ganhos decorrentes daquelas
atividades. Um aspecto central da brincadeira era um trator de brinquedo feito
por um dos meninos, com a ajuda de um irmão mais velho, a partir de diversos
objetos descartados (sucata). Os meninos fizeram um arado para o trator, e
reproduziam cooperativamente e trabalhosamente todos os diversos elementos do
trabalho agrícola, desde revolver o solo com o arado, plantar e regar a
plantação, até irrigação, tirar mato, e finalmente colher e levar o produto da
colheita a um armazém de faz de conta. Também reproduziam o processo de vender
a colheita usando dinheiro de mentira. Finalmente, usavam os lucros de faz de
conta para brincar de loja, onde compravam uma variedade de produtos
representados por objetos como pedaços de metal e vidro e restos de baterias
(Katz, 2004, p. 12-13).
A brincadeira das meninas também era
elaborada. Faziam bonecas de palha, nomeavam as bonecas, que representava
homens e mulheres de todas as idades, e brincavam com as bonecas em casas ‘que
criavam com divisórias feitas de sapatos, pilões, tijolos e pedaços de lata’
(Katz, 2004, p.17).
As meninas usavam esses suportes
materiais para encenar uma variedade de atividades domésticas como cozinhar,
comer, buscar água no poço e fazer visitas. Essas atividades, embora próximas
do modelo adulto, eram altamente inovadoras em comparação com os brinquedos de
crianças ocidentais pela forma inventiva de uso pelas crianças de uma variedade
de materiais naturais ou sucata.
Em suma, há evidências
significativas em apoio à proposição de que rotinas de aproximação-evitação e
brincadeiras de dramatização de papéis são elementos universais das culturas de
pares em crianças. No entanto, são necessários mais estudos sobre a brincadeira
de crianças em muitos outros grupos culturais para sustentar inteiramente essa
proposição e apreender a diversidade de estilos e de natureza dessas
importantes rotinas lúdicas na vida cotidiana das crianças.
Referências
Alston, L. (1992). Children as chattel. In E.
West & P. Petrick (Eds.), Small
worlds (pp. 208-231). Lawrence , KS : University Press of Kansas .
Bateson, G. (1956). “This is play” in Group processes: Transactions of the second
conference. New York :
Joseph Macey, Jr. Foundation.
Corsaro, W. (2003). “We’re friends, right?: Inside kids’ culture. Washington , D.C. :
Joseph Henry Press.
Corsaro, W. (2005). The Sociology of Childhood. 2nd edition. Thousand Oaks , CA :
Pine Forge Press.
Goffman, E. (1974). Frame analysis. New York :
Harper & Row.
Hanawalt, B. (1993). Growing up in medieval London. New York :
Oxford University Press.
Katz, Cindi. (2004). Growing up global. Minneapolis , MN : University
of Minnesota Press.
Marshall, L. (1976). The !Kung of Nyae Nyae. Cambridge , MA : Harvard
University Press.
Schwartzman, H. (1978). Transformations: The anthropology of children’s play New York : Plenum.
Wiggins, D. (1985). The play of slave children
in the plantation communities of the old South, 1820-60. In N. Hiner & J.
Hawes (Eds.), Growing up in America :
Children in historical perspective (pp. 173-192). Urbana ,
IL : University
of Illinois Press.
[1] NT: Preservei a palavra “pares”, mas fique claro que o sentido não
é o de duplas, e sim de parceiros, de iguais – como em “pares do reino”. Em
nosso próprio trabalho, preferimos a expressão Cultura do grupo de brinquedo.
[2] Trifle: um bolo tipo pão-de-ló, umedecido com vinho, coberto
com geléia e molho de creme, chantilly etc..
*** este texto é parte de uma apresentação, portanto, contém algumas anotações feitas pelo autor para organizar a mesma.
*** este texto é parte de uma apresentação, portanto, contém algumas anotações feitas pelo autor para organizar a mesma.
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